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sábado, 13 de março de 2010

JOGO DOS BONS

João Caetano estava  impaciente naquele dia. Ele queria matar o tempo, fazer alguma coisa para sair do marasmo, mas indeciso, andava de um lado para outro, sem um objetivo definido. Na parte da manhã, as coisas estavam tranquilias, no entanto, depois do almoço, tentou tirar um cochilo, mas  o sono não veio. Depois de dar várias voltas em torno do largo dos Açorianos, ele pega a Borges e vai caminhando em direção à zona sul. No cruzamento com a  Avenida Ipiranga, pára, acende um cigarro, depois continua em frente. Na Padre Cacique , nota que há um movimento de povo uniformizado. Vê gente com a camisa do Grêmio e gente com a camisa do Inter, pensou: tem Grenal. Ele andava tão desligado de futebol! Tão desligado e desinteressado que dizia, algumas vezes: torcer para um time era o mesmo que copular com a vara emprestada...  Mas sem nada para fazer naquela tarde de domingo, resolve dar uma espiada lá dentro. Dirige-se a um dos guichês, compra um bilhete, passa na catraca, adentra no estádio e senta-se junto à torciida colorada. Ele mal senta e é apupado; xingam-no, injuriam a mão e gritam: gremista cacohrro.. Ai ele percebe que veste uma camiseta azul. Os policiais que vigiam as torcidas, retiram-no do redemoinho vermelho e põe-no em meio ao aglomerado azul. Em seguida o jogo começa, mas João Caetano adormece.

Quando João Caetano acorda; vê os jogadores dos dois times sentados no meio do campo, ouvindo instruções dos seus treinadores. Pergunta o que está acontecendo ao companheiro do lado. O cara diz que o jogo terminou empatado no tempo normal e também na prorrogção, foi zero a zero, e, agora o campenato vai ser decidido em cobranças de pênaltis. O juiz escolhe uma das goleiras para as cobranças dos tais pênaltis e ordena o início dos trabalhos. Os boleiros do Grêmio chutaram a gol. Os caras do inter chutaram a gol. A primeira série ficou empatada em 5x5; a 2ª série 5x5; a 3ª série 5x5; a 11ª série 5x5; a 23ª série 4x4; a 91ª 1x1. As cobranças terminavam sempre empatadas. Os jogadores estavam tão cansados que já não conseguiam parar de pé. À meia-noite, o juiz cai desmaiado. O juiz reserva ordena que os torcedores irão decidir o título, eles cobrarão os tiros livres para os seus clubes. Porém, surge um problema, os torcedores não possuem fardamento, nem chuteiras, nem meias adequadas. O impasse foi solucionado pelo Presidente da Federação Gaucha de Futebol, que autorizou os torcedores a cobrarem os pênaltis de qualquer jeito. Para bater na bola valia tênis, sapatos, tamancos, alpargatas, coturnos, galochas, pé engessado, enfim, valia tudo. Era zero hora e trinta e cinco minutos quando os torcedores iniciaram as séries. Às cinco horas da manhã o jogo  continuava empatado. O juiz reserva e os bandeirinhas haviam caído desmaiados. Na rua era uma confusão provocada pelas sirenes das ambulâncias conduzindo os torcedores para os hospitais da cidade, quase todos desmaiados devido a falta de ingestão de líquidos. Agora quem comandava a cobrança dos pênilatis era o vice-presidente da Federação e o baile prosseguia... Não querendo fazer trocadilho, àquela altura do campeonato, já não havia quase ninguém no estádio. De repente, um brigadiano cutuca no ombro de João Caetano e ordena: é a tua vez de bater na peronha. Já não havia mais bola. Vinte e cinco bolas oficiais haviam sido gastas. João Caetano ia chutar uma bola de meia. Quem estava no gol para tentar fazer a defesa era o presidente do Internacional.. João Caetano estufou o peito, enquadrou o corpo, correu para a bola, digo meia, levantou a perna e caiu desmaiado.
   

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